No Semiárido nordestino, em especial nos períodos de seca, a galinha caipira é uma das poucas espécies domésticas a resistir em pequenos viveiros. Nessa época de adversidade, a ave contribui significativamente para o sustento das famílias, fornecendo ovos e carne devido à sua resistência e adaptação à região. Mas apesar de toda essa importância, a avicultura caipira ainda permanece distante dos holofotes da agricultura industrial.
O Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) acaba de criar a Rota da Avicultura Caipira, que terá o primeiro polo instalado no estado da Paraíba. A nova rota integra as ações do Programa Rotas de Integração Nacional. A iniciativa, presente em todas as regiões do País, visa estimular o empreendedorismo, o cooperativismo e a inclusão produtiva, possibilitando que os produtores trabalhem em conjunto, ganhem escala e possam comercializar com outras localidades, estados e até países.
A criação da Rota da Avicultura Caipira partiu de sugestão do diretor-presidente da Central de Cooperativas Agropecuárias da Paraíba (Coopaf), Wendell José de Lima Melo. Ao buscar o desenvolvimento do setor, ele procurou o MIDR para apresentar os números pouco conhecidos dessa atividade e obteve retorno positivo da Pasta.
“A avicultura caipira é uma gigante invisível, presente em todos os municípios paraibanos. Na Coopaf, contamos com 88 cooperados, produzindo diariamente cerca de 23 mil ovos sob a marca Sou Caipira, distribuídos em redes de supermercados nas regiões de Campina Grande, João Pessoa, Natal, Mossoró e Recife”, explicou Wendell Lima.
“A rota vai tirar a avicultura caipira do armário, trazendo à tona sua relevância na Paraíba, no Nordeste e no Brasil. Vai surpreender muita gente, impulsionando não só a economia, mas também contribuindo para a segurança alimentar, especialmente por meio de iniciativas como o PAA (Programa de Aquisição de alimentos) Ovo Caipira, que visa combater a fome e a desnutrição”, afirmou Lima.
Diversos polos
O objetivo com a Rota da Avicultura Caipira é criar polos em vários estados brasileiros e auxiliar na estruturação do setor, a partir de diferentes frentes de atuação, como a implantação de unidades de beneficiamento, estudos, pesquisas (de produção a comercialização), melhoramento genético e novas tecnologias. Medidas que visam ampliar a venda dos produtos de maneira sustentável, com a geração de mais renda e emprego.
Segundo Wendell Lima, a avicultura caipira mobiliza recursos em todo o seu processo produtivo, desde o arranjo produtivo local (APL) até a geração de insumos, produção genética dos animais, assistência técnica, beneficiamento, logística e comercialização. Além disso, gera emprego e renda para os produtores e cooperativas.
Na Paraíba, existem sete cooperativas e mais de 130 associações que trabalham com a avicultura caipira, envolvendo mais de 1,5 mil famílias de agricultores familiares e gerando trabalho, emprego e renda, com a inclusão de toda a família na atividade, com a participação da mulher e dos jovens.
Uma dessas produtoras é Maria Nazaré dos Santos Barbosa, de 68 anos. Na busca de tornar seus oito hectares de terra mais rentáveis, encontrou na pesquisa realizada pela Universidade Federal de Campina Grande e pela Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba (Emepa) a sugestão para investir na produção caipira de aves.
“Comecei com 600 aves para postura, comercializando de maneira informal. Outros produtores familiares aderiram na região e sentimos a necessidade de formar uma associação. Com o crescimento da atividade, tornou-se necessário formalizar a comercialização”, relata Maria Nazaré. Em 2009, ela fundou a Cooperativa Paraibana de Avicultura e Agricultura Familiar com aproximadamente 25 cooperados.
“A avicultura caipira é um instrumento de geração de renda, bem-estar e sustentabilidade para o produtor familiar. Nosso objetivo é fortalecer a identidade do produtor com sua localidade, promovendo oportunidades no meio rural e viabilizando sua permanência no campo”, afirma Maria Nazaré, enfatizando o propósito social da iniciativa.
No entanto, desafios ainda persistem. Maria Nazaré destaca a necessidade de estratégias que podem ser implementadas com a criação da Rota da Avicultura Caipira. “Nossas principais demandas são estratégias para aquisição de insumos, criação de núcleos de assistência técnica e extensão rural especializada, além de uma maior integração dos produtores da avicultura caipira”, pontuou a produtora rural.
Uma das atividades já previstas na implantação da Rota da Avicultura Caipira na Paraíba é a reestruturação de duas Unidades de Beneficiamento de Aves, com a capacidade de abater seis toneladas de aves por dia, mas atualmente paradas. A medida vai atender mais de 115 municípios paraibanos que contam com pequenos produtores.
“A criação da Rota da Avicultura Caipira é um pilar fundamental do futuro agropecuário do país. A avicultura caipira representa uma grande oportunidade para impulsionar o desenvolvimento rural sustentável no Brasil, trazendo benefícios econômicos, sociais e ambientais associados a essa produção de proteína. Ao reconhecer e apoiar a avicultura caipira, pode-se fortalecer as comunidades rurais, associações, cooperativas, além de ajudar a promoção e inclusão de jovens e mulheres”, destaca o coordenador das Rotas de Integração Nacional, Tiago Araújo.
Sobre as Rotas de Integração Nacional
As Rotas de Integração Nacional são compostas por redes de arranjos produtivos locais associadas a cadeias produtivas estratégicas capazes de promover a inclusão produtiva e o desenvolvimento sustentável das regiões brasileiras priorizadas pela Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR). Atualmente, o programa engloba as Rotas do Açaí, da Biodiversidade, do Cacau, do Cordeiro, da Economia Circular, da Fruticultura, do Leite, do Mel, da Moda, do Pescado e da Tecnologia da Informação, Mandioca e Comunicação (TIC).
“O Programa Rotas de Integração Nacional possibilita que, de fato, nossas ações tenham impacto sobre a população e o poder de transformação das nossas regiões. Estamos em 3.670 municípios do Brasil, sempre com a missão de levar desenvolvimento com base na sustentabilidade e apostando na agricultura familiar, nas associações e cooperativas, como alavancas de desenvolvimento regional”, destaca a secretária nacional de Políticas de Desenvolvimento Regional e Territorial do MIDR, Adriana Melo.